quinta-feira, 9 de agosto de 2012

O melhor fica mesmo para último?

   Todos já experimentámos a perda. Não me refiro à perda superficial de objectos ou de algo ou alguém que para nós possa voltar a qualquer momento e retorne a fazer parte da nossa vida.
   Refiro-me à perda de que quem ficou sente, à perda permanente, que quando o que vai já não pode voltar mais. Nunca.

   Hoje podem me achar muito sádica, mas apeteceu-me escrever sobre a morte, embora não haja muito para dizer sobre ela, pois acho que não há grande coisa que possa dizer da morte um vivo.
Para falar da morte, só mesmo um morto. A nós, aos vivos, cabe falar da vida, e essa já traz muitos mistérios e muitos de nós hão de morrer sem os desvendarem completamente. Triste, mas sem dúvida a dura verdade.
   É a lei da vida, lei da natureza, lei essencial de todos os seres que respiram e têm o elixir da vida que lhes percorre o corpo, as moléculas, os tecidos, as veias, os órgãos.
   O ser vivo nasce, cresce, reproduz-se, envelhece e morre. Mas existem os que morrem sem envelhecer, assim nasce-se, cresce-se, reproduz-se e morre-se. Há quem morra sem se reproduzir, assim nasce-se, cresce-se e morre-se. Há quem morra antes de crescer, assim nasce-se e morre-se. Também há quem morra antes de propriamente nascer e assim morre-se. Podemos não crescer, não nos reproduzirmos nem envelhecer, mas qualquer que seja o caminho, acabamos por morrer, é impossível não morrer.
   Andamos todos de mãos dadas com a morte, para se morrer basta estar vivo. Isso quer dizer que se não houvesse vida não havia morte? Então se não houvesse morte não havia vida? Era justo. Seria um pouco como o bem e o mal, um depende da existência do outro.
   Existem mortes felizes, descansadas de quem já viveu tudo o que tinha para viver e com sensatez está à espera, e há mortes injustas, dolorosas, frias e solitárias, essas são para as que para quem não se conforma nós dizemos com pezar e lamento "Já tinha chegado a hora".
   Normalmente a morte assusta, é o medo de partir e nunca mais poder voltar, fechar os olhos e não ser capaz de os tornar a abrir. Perder o que se conquistou em vida, agarrar a maldita ganância e o material. Tudo não passam de temporárias ilusões que mais cedo ou mais tarde, quer queiramos ou não vamos ter que largar.
   Há quem não goste de falar dos mortos, para mim, benditos sejam os que já partiram, pais, primos, irmãos,irmãs, avós, tios, tias, até animais de estimação.
   Benditos, porque não há nada que mais os tenha valorizado que a morte, a saudade que ficou, as memórias, os grandes feitos, as grandes personalidades, os grandes valores, os talentos, o carácter, afinal a falta que fazem! A glória de quem já foi é eterna, ninguém a vai poder tirar.

Gustave Flaubert disse: "A morte talvez não tenha mais segredos para nos revelar que a vida".
Lucan: "Os deuses escondem a beleza da morte para levarem-nos a aguentar uma vida inteira".

1 comentário:

  1. me impressionou o fato de vc ver poemas antigos do blog, mas eu gostei muito, as vezes a gente tem vontade de sair postando os poemas antigos pra que os seguidores novos vejam srsrs. Agradeço seu comentário e logo logo estarei por aqui comentando também

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